HE-UFPel reorganiza internações oncológicas e implementa plano de cuidado personalizado
A partir do dia 2 de dezembro, a Rede Urgência e Emergência III (RUE III) do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), passou a atender exclusivamente pacientes oncológicos clínicos. A mudança incluiu a implementação do Plano Terapêutico Singular (PTS), conduzido por uma equipe multiprofissional de referência, que abrange diversas áreas assistenciais e médicas.
Segundo a chefe do Setor de Gestão da Qualidade, Susana Cecagno, a decisão foi tomada após um ano de monitoramento dos tempos de internação, e a proposta foi apresentada e aprovada no Núcleo de Gestão da Qualidade do hospital. Ela explicou: “Identificamos que a Oncologia Clínica era uma das especialidades com mais tempo de permanência hospitalar, e ainda, possuía cenários que contemplam os atendimentos em forma de linha de cuidado. Por isso, decidimos focar nesta área para implementar um ciclo de melhoria da qualidade, baseado na metodologia Saturno (2017). Nosso objetivo é reduzir o tempo de internação e oferecer um cuidado mais centralizado e individualizado no paciente”.
Para esse trabalho, está sendo desenvolvido um ciclo de melhoria da qualidade, calcado na metodologia disposta por Saturno (2017), que contempla as etapas: 1) identificação da oportunidade de melhoria; 2) análise do problema de qualidade; 3) construção dos critérios para avaliar a qualidade; 4) planejamento do estudo para avaliar o nível de qualidade; 5) intervenção de melhoria dirigida aos critérios mais problemáticos; 6) reavaliação e registro da melhoria implantada.
Assim, com essa proposta de intervenção, os 12 leitos clínicos da RUE III passam a ser destinados exclusivamente para internação oncológica via Sistema Único de Saúde (SUS). Antes, os pacientes estavam internados nas diferentes unidades do HE-UFPel, dificultando a centralização do cuidado e a comunicação entre as equipes assistenciais. Como destacou Susana, “essa mudança permitiu que todos os profissionais de referência – como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e outros – atuassem de forma integrada, discutindo os casos em conjunto e planejando o cuidado de maneira personalizada”.
Mudança com foco no paciente
Com a implementação do PTS, os casos são discutidos semanalmente pela equipe multiprofissional para planejar os cuidados com base nas necessidades específicas de cada paciente. A meta principal é fortalecer as práticas assistenciais com foco na segurança, qualidade e experiência do paciente. Segundo Susana, “Queremos oferecer um cuidado humanizado e eficiente, reduzindo o tempo de internação e garantindo que os pacientes se sintam acolhidos e respeitados”.
A equipe responsável pelo cuidado inclui profissionais das áreas de Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia, Serviço Social, Odontologia, Farmácia Clínica, Educação Física, Nutrição, Terapia Ocupacional e Psiquiatria. A iniciativa também envolve estudantes de graduação e residentes das áreas médica e multiprofissional, promovendo aprendizado prático e colaborativo.
Para a fisioterapeuta Bruna Lencina Del Castillo, o PTS representa um avanço no modelo de assistência. “A abordagem interdisciplinar coloca o paciente no centro do cuidado, considerando suas necessidades e expectativas. Isso melhora a qualidade da assistência, agiliza encaminhamentos e promove uma visão mais ampla sobre o processo saúde-doença. O paciente ganha em qualidade de vida, o profissional em satisfação e a instituição em excelência no atendimento”, afirmou.
Além disso, Bruna explicou que essa abordagem facilita os encaminhamentos necessários para a desospitalização e promove uma mudança no foco do tratamento. Ela detalhou: “deixamos de olhar apenas para a doença e passamos a olhar para o indivíduo como um todo, priorizando sua qualidade de vida. Na minha opinião, o paciente ganha em assistência, o profissional ganha em satisfação e a instituição ganha em qualidade no atendimento”.
Impacto na assistência oncológica
A oncologista clínica e professora adjunta da Faculdade de Medicina da UFPel, Silvia Saueressig, enfatizou os benefícios da reorganização da RUE III. “A finalidade da reestruturação da internação dos pacientes oncológicos nos leitos do HE-UFPel e do PTS é aprimorar a assistência para esses casos. Isso se dará por meio da troca de conhecimentos e interlocução entre equipes multidisciplinares. Ao se aproximar e unir diferentes áreas com o mesmo objetivo do cuidado, faremos uma internação mais humanizada e proporcionaremos uma vivência intra-hospitalar mais leve e individualizada a esses pacientes e suas famílias”, afirmou a especialista.
Já a enfermeira rotineira da unidade, Natália Rosiely Costa Vargas, destacou que a reestruturação é um grande passo para qualificar o atendimento via SUS. “Com essa mudança, conseguimos ter um novo olhar e um processo de trabalho diferenciado. A comunicação mais efetiva entre os profissionais e com os pacientes e familiares é essencial. Quando discutimos cada caso com uma equipe multidisciplinar, olhamos para aquela pessoa de forma integral”, explicou.
A enfermeira também ressaltou que “as mudanças já começaram a mostrar resultados positivos, mesmo com pouco tempo desde o início desse trabalho”. Segundo ela, “a comunicação mais efetiva entre os profissionais e a elaboração conjunta do plano terapêutico singular têm gerado maior resolutividade nos casos. Os pacientes estão mais informados sobre sua situação porque todos os profissionais falam a mesma língua”.
Colaborou: Andreia Pires – Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh